Livro escrito pelo jornalista Elcias Lustosa que trabalhou na
Câmara dos Deputados em Brasília como redator das atividades parlamentares.
Cearense, nascido em 1947, Lustosa é um dos mais brilhantes jornalistas da sua
geração.
Apoiado em extenso currículo como jornalista e como professor
universitário, reuniu de modo feliz dois tipos de conhecimento que andam em
geral separados: o do acadêmico e do prático da vivencia política no dia a dia
na excelsa casa de Leis do Brasil.
Como muito bem destacado no prefácio do livro por Francisco
C. Welffort, trata-se de um livro útil tanto para os políticos como para
profissionais da imprensa que cobrem o assunto e também para marqueteiros e militantes
partidários.
O TEATRO POLÍTICO mostra como funciona a engrenagem que busca
“vender” o político que a própria mídia transforma em atores, apresentando ao
público uma imagem que corresponda a suas expectativas e motivações.
Desvendando as relações entre a mídia e a política, Lustosa
mostra todas as etapas do “espetáculo”, tais como: o cenário; o ensaio geral; o
picadeiro; o espetáculo e o último ato.
Ao mesmo tempo que apresenta sugestões e observações
extremamente válidas para os envolvidos nessa arte de “montar e protagonizar o espetáculo”, o livro
evidencia os artifícios usados, a distância entre imagem e a realidade e entre
os sonhos do político e suas possibilidades de realização.
Muita embora transpareça num primeiro momento (quando compara
a atividade política ao teatro), não pretende dar o tom do mero fingimento
teatral mas dos paradigmas que os atores “políticos”são obrigados a se adequar,
sob pena de serem desprezados pelos meios de comunicação.
Ao fazer referencia ao primeiro capítulo que o autor denomina
Cenário, ele divide seis tópicos: “O resumo da ópera”; “O ator”; “A platéia”; “O
palco”; “A produção”; “O dramaturgo”.
Destaco aqui algumas assertivas descritas pelo autor nesse
capítulo:
“Política é paixão e emoção”
“A militância é mãe de todos os votos”
“O importante não é o fato mas a versão”
“O político/candidato deve ser o melhor vendedor de si mesmo”
“A vontade (sonhos) é ineficaz sem o poder”
“É dever de quem se expõe saber que todas as suas
declarações, discursos ou atos vão ser usados contra ele.”
“Para a mídia, a boa notícia é justamente a má notícia.“
“Os normais, medianos e regulares dificilmente serão notícia.”
“Só se pode vender o que se tem.”
“Só se vende o que se tem. Não se cria em cima do nada.”
“O ator (político) precisa do veículo de comunicação, assim
como o veículo de comunicação precisa dele.”
“Noticia é a informação transformada em mercadoria.”
Sustenta o autor que o que se coloca em primeiro lugar para
os meios de comunicação é sua garantia existencial como empresa, restando a
questão ideológica para segundo plano. Que a triologia mais usual nos discursos
ideológicos são: Deus, Pátria e Família.
O eleito, por sua autoridade constituída, desempenhará o
papel de astro em cena.
A mídia elege os atores da cena política que sempre
desempenharão o papel de “mocinhos” e aqueles que desempenharão o papel de
“bandidos”, enquanto o resto é figurante ou “baixo clero”. Dessa forma, cada
vez mais prevalece a embalagem em detrimento do conteúdo.
Ao retratar a padronização jornalística da grande imprensa,
afirma que o jornalista está mais próximo de um empacotador de supermercados,
ao trabalhar um texto, do que um criador intelectual.
O segundo capítulo que o Autor denomina “O ensaio geral”,
destaca “a performance”’; “a coreografia”; “o jogo de cena”; “os astros”; “os
personagens”; “a encenação” e “a montagem”.
Ao abordar a clássica teoria da informação (emissor – meio –
receptor), o autor lembra que na comunicação política a mensagem ultrapassa o
limite da persuasão e busca a comoção.. “Comover para mover” adverte, uma vez
que o ato de votar implica encontrar um documento perdido numa gaveta qualquer,
sair de casa num dia de ócio, comparecer a uma seção eleitoral, enfrentar uma
fila, identificar-se para pessoas normalmente de mau humor e finalmente,
sufragar um nome escolhido por suas grandes virtudes ou mesmo um salvador do
mundo. Nesse aspecto, reforça: “os militantes são fundamentais no processo
político”.
Nesse sentido, apregoa, o ator político deverá percorrer uma
“via crucis” de cinco estágios:
1) VISUALIZAÇÃO: significa aparecer na grande mídia, mesmo
como “papagaio de pirata”;
2) REVELAÇÃO: Faz do ofício um instrumento que o revela ao
grande público. O exemplo dado pelo autor foi o Deputado Heráclito Fortes que se destacou por ter sido assessor de
confiança de Ulysses Guimarães.
3) ATUAÇÃO: inserção ao espetáculo da mídia por exercer papel
reconhecido e estar sempre presente aos acontecimentos que são objetos de
interesse. Um exemplo clássico na década de 80 foram os piqueteiros
profissionais de greves que freqüentavam TODAS as greves, independentemente de
qual categoria fosse. Esses personagens eram sempre requisitados para dar
entrevistas.
4) INTERVENÇÃO: Atores políticos que alteram o rumo dos
acontecimentos num mero discurso ou
opinião.
5) SOLIDARIEDADE ATIVA
E MILITÂNCIA: Objetiva o movimento coletivo que se desloca para manter um
contato pessoal, ouvir um discurso na praça, ficar atento ao rádio ou TV para
ouvir e assistir uma entrevista e até sair de casa para ver um comício ou
reunião. Tudo objetivando a movimentação final que é o sufrágio na urna no dia
da eleição.
Para cumprir essa “via crucis” o ator político tem que deixar
claro no subconsciente popular a seguinte certeza: “conheço o seu problema, sei
como resolvê-lo e tenho os meios para
solucioná-lo”. Traduzindo: “EU SOU A SOLUÇÃO”.
Dentre as dificuldades apresentadas para “fazer o jogo de
cena” o Autor destaca a tarefa de o ator dizer o que o jornalista quer ouvir,
de forma a realizar as cinco perguntas fundamentais:
1) O QUE DIZER?: Lembrando que o
importante é a versão e não o fato;
2) COMO DIZER?: Utilização da
iconografia, ou seja, expressividade estatística e elementos capazes de causar
comoção;
3) QUANDO DIZER?: Senso de oportunidade
aguçado;
4) A QUEM DIZER?: Reconhecimento em um nicho específico.
Exemplo: Um delegado eleito pela sua atuação profissional;
5) POR QUE DIZER?: Em consonância com as
expectativas dos segmentos sociais que o ator representa. É comum alguns
parlamentares destacarem-se em debates que não estão em pauta de discussão na
sua base, como a caso de “royalties” do petróleo.
No terceiro capítulo que o autor faz referência ao picadeiro,
ele faz comentários sobre a estréia do político na vida pública, o chamado
“mise-en-scène”, do enredo, do ambiente, da fala, da marcação e da atuação.
O estreante ao chegar em Brasília, se vê num turbilhão de
novidades e frustrações que acaba se questionando: onde estou? Quem sou? Para
onde vou? e Que será de mim?
Que a “mise-en-scène” deve ser analisada sob a ótica de
identificação de cinco importantes espaços, tendo como base o Congresso
Nacional, sendo eles: 1) o Gabinete; 2)
a Assessoria; 3) as Comissões Técnicas; 4) o Plenário; 5) o Salão Verde.
O Gabinete que tem (ou deveria ter) uma função de escritório
administrativo, passa a ser uma grande dor de cabeça ao parlamentar devido ao
grande número de pedintes solicitando todo tipo de ajuda, além de um batalhão
de lobistas e grupos de pressão que perambulam diariamente pelos corredores do
Congresso.
A Assessoria Legislativa é a coluna vertebral dos
parlamentares, haja vista ser responsável em elaborar o “texto da ópera”.
Somente por meio dela será possível o ator elaborar projetos de lei, pareceres,
discursos e estudos.
Já as Comissões são analisadas quanto ao mérito e quanto ao
tema. O mérito é analisado na Comissão
de Constituição e Justiça e nas demais comissões que apreciam as propostas
segundo a perspectiva temática e técnica. É o caso de projetos que tratam ao
assunto da saúde, da educação, da segurança pública, de agricultura, cada qual
discutida na Comissão inerente ao tema proposto.
No que diz respeito ao Plenário é onde ocorre o desfecho das
grandes questões submetidas à apreciação do Poder Legislativo. Representa a
arena onde se dá efetivamente o grande embate das idéias e do poder.
Já o Salão Verde tem uma relevância simbólica, equiparado ao
hall denominado lobby na Câmara dos Comuns na Inglaterra, onde os deputados
britânicos recebem e atendem os representantes de vários grupos de pressão que
se dirigem àquela casa. O Salão Verde tem justamente essa finalidade, muito
embora no Brasil satanizaram essa denominação “lobby”.
Segundo o autor, ao tratar do enredo, assevera corretamente
no que diz respeito à atividade parlamentar na medida que os deputados examinam
os projetos a partir de suas convicções, de sua perspectiva ideológica, das
indicações doutrinárias dos seus partidos, da avaliação de suas bases
políticas, dos encontros com grupos de pressão e, até mesmo de manifestações
familiares, para exercer o voto final no plenário.
Sobre o ambiência o autor destaca o processo cultural de cada
parlamentar, devendo este, na construção de seu discurso saber o que pode ou
deve falar, para quem e como, devendo estar atendo às mudanças em saber o que
muda e como muda, destacando que “o Estado enquanto instituição política,
organização e estruturação de um povo como sociedade, é incompleto e está
sempre ajustando, adaptando e se recriando.”
É nesse cenário de imensas dúvidas, com grandes incertezas e
confrontando com o desconhecido que interage o ator político, exigindo
cotidianamente a indicar caminhos ou refletir sobre tal realidade complexa
pelos que nele confiam e seguem. Nesse sentido, lembra o autor, que os
eleitores não escolhem derrotados, ausentes, incapazes e fracos para
defendê-los.
Lembra que o Estado eficiente, o Estado mínimo, o Estado
suficiente, o Estado adequado deve ser construído pela sociedade como um todo
por meio do voto e da manifestação dos
que legitimamente a representam, e que dentro desse contexto, lembra que
nenhum projeto de lei apresentado no legislativo, depois de ultrapassar
todos os filtros e idiossincrasias de
vários estamentos, tem como texto final efetivamente o que imaginou àquele que
desencadeou o processo. Tal fenômeno implica em relativizar as certezas levando
a diminuição do fanatismo.
Toda essa atuação do parlamentar são verificadas no “pequeno
expediente”, no “grande expediente”, na “comunicação de liderança”, na
“comunicação parlamentar”, na “questão de ordem” e na discussão da “ordem do
dia”, todos previstos no Regimento Interno da Câmara dos Deputados.
O Pequeno Expediente tem duração de 5 minutos e
normalmente se discutem as questões paroquiais, onde são abordados os problemas
específicos dos segmentos sociais. Não é permitido aparte.
O Grande Expediente tem duração de 25 minutos e são
permitidos apartes por qualquer parlamentar. A escolha é feita pela Secretaria
Geral da Mesa através de sorteio entre deputados previamente inscritos, não
podendo concorrer em mês subseqüente quem foi sorteado.
Como o próprio nome diz, a Comunicação de Liderança é
a prerrogativa dos líderes dos partidos políticos com assento na casa,
normalmente utilizada com finalidade doutrinária ou ideológica. É permitido
apartes
No que diz respeito à Comunicação Parlamentar, somente
são permitidas se após esgotados o pequeno e grande expediente e oportunizado
Comunicação de Lideranças, sobre tempo. O tempo é de 10 minutos e é permitido
apartes.
Em qualquer momento da sessão, um parlamentar pode
interromper os trabalhos para levantar Questão de Ordem, relacionadas
com o não cumprimento das normas regimentais.
A Ordem do Dia constitui-se das matérias em pauta para
votação durante a sessão, sendo ela iniciada com a leitura da proposição a ser
votada, seguindo-se de prazo para discussão da matéria, o que pode ser feito
por qualquer parlamentar mediante prévia inscrição.
O processo legislativo é uma demonstração diuturna da arte em
reunir os contrários, devendo as condutas
e relações pessoais dos atores serem cordiais uns com os outros por
imposição regimental.
No quarto capítulo o autor faz referencia ao Espetáculo, nesse sentido ele trata “da
iluminação”; “do figurino”; do script”; “do virtual”; “do libreto”; “da voz” e
“do corpo-a-corpo”.
O êxito político está diretamente vinculado à
capacidade de saber criar caso, impor idéias e exigir espaço. Quem conta a
história é quem ganha a guerra. O ator político apropria-se do espaço da mídia quando se apropria do poder.
Mais do que um papel no cenário político, o homem é sua circunstância, e dela
vai apropriar-se de forma a construir bem o seu personagem para tornar-se um
astro, valorizando todas as suas entradas em cena nos espetáculos noticiosos.
O ator político vive para o picadeiro e, sem ele, seu
potencial de continuar a ter papel relevante é mínimo, senão remoto. A mídia,
na sua lógica do mercado, não está interessada em patrocinar atores, mas em se
apropriar de astros que consigam produzir audiência.
A produção do texto informativo sobre ações do ator político
deve primar pela simplicidade e clareza, com o mínimo de conceitos técnicos ou
acadêmicos. Mãe é mãe e não genitora já dizia o jornalista Carlos Lacerda.
O texto ou “script” deve sempre pautar em responder as cinco
perguntas: O quê? Quando? Onde? Como? Por quê? Os textos devem ser compostos
por orações em ordem direta com sujeito
e predicado, evitando-se possíveis erros de concordância, mais comuns em frases
construídas na ordem indireta.
Cabe lembrar que os redatores não dispõem de muito tempo para
se dedicar aos inúmeros “releases”
que chegam a sua mesa de trabalho, daí a conveniência da elaboração de textos
curtos.
A televisão constitui-se, por sua abrangência, como o veículo
que dá maior visibilidade ao ator inserido no espetáculo político,
especialmente por ser o meio mais importante em termos de ocupação do cidadão, seja como instrumento de lazer,
quanto de informação. O meio televisivo elege os atores para os espetáculos
noticiosos em função do seu potencial ou da sua capacidade de interferir no
interesse coletivo.
O processo de inserção do ator no cenário televisivo
constitui-se na mais difícil missão do político, pois, por mais criativo que
seja, disputará um afunilado espaço com outros 593 atores (no caso do Congresso
Nacional).
A modernização tecnológica, que determinou uma extrema
velocidade nas comunicações, provocou mudança no formato dos veículos de
comunicação escrita, os chamados “libreto”.
Ao contrário do que ocorre com os telespectadores da
televisão e ouvintes do rádio, o leitor do jornal folheia as suas páginas com o
propósito de encontrar notícias mais abrangentes e com riqueza de
detalhes. Uma evidencia disso é o fato
de que as tiragens dos jornais aumentam substancialmente no dia seguinte a uma
grande tragédia ou acontecimentos divulgados pela televisão e rádio no dia
anterior.
O autor destaca ainda que nunca um parlamentar destacado para
uma entrevista demonstra desconhecimento da questão abordada. Isto porque é
previamente selecionado pela mídia. “ O ator político, diante de tal
constatação, somente vai obter inserção nos noticiários caso construa uma
notoriedade de saber sobre matérias do interesse público.” Haja vista que o
veículo escrito é mais exigente que o rádio e a TV.
No que diz respeito às emissoras de rádio, o autor destaca
sua mobilidade pelo fato de acompanhar o deslocamento físico do ouvinte, seja
nas suas caminhadas, dirigindo o carro, dentro do domicilio, possibilitando
importante audiência, somado ao fato a
linguagem do rádio ser construída de forma a permitir a transmissão de
conteúdos sem que o ouvinte tenha que se abstrair de outras atividades.
Segundo o autor: “uma
evidência da importância do rádio para o ator político é o fato de que grande
número de parlamentares controlam emissoras em suas bases políticas e realizam
diariamente programas informativos...”
A melhor demonstração
de que os atores políticos dão a devida importância à força do rádio é a
disputa interna para inserir um pronunciamento seu na vetusta “Voz do Brasil”.
O último tópico dedicado ao capítulo denominado “o
espetáculo” é o trabalho do conhecido “corpo-a-corpo” em que o parlamentar
busca dar visibilidade na sua base eleitoral das chamada “questões paroquiais”através
de jornais informativos, mala direta, “releases”
aos meios de comunicação, prefeituras, vereadores, lideranças sindicais e todos
aqueles que exercem papéis representativos, incluindo ai ex-prefeitos,
ex-vereadores, etc.
O último capítulo o autor denomina “Último Ato”, o qual
comenta sobre “o marketing”, sobre “a travessia”, a “segmentação” e “o desfecho
da trama”.
Para a mídia, a boa notícia é a má noticia, assim, o avião
que sobe e desce, o empresário honesto, o político de boa conduta e postura
ética, enfim, o normal, o correto, o justo, não são notícia.
Considerando que no consciente coletivo a política é
instrumento do mal, cenário onde ocorrem corrupção, negociata e principalmente
malandragem, cabe ao ator político, através de bem elaborado marketing, mostrar
que não é político, visando justamente ter sucesso político.
O ator cita o exemplo de Fernando Collor em 1989 que firmou
imagem e discursos contra os políticos e a política, muito embora sendo neto,
filho e ele próprio político, tendo exercido à época cargos de prefeito,
governador e deputado.
Aqui cabe lembrar Fernando Pessoa quando afirma que: “o poeta
é um fingidor... Finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que
deveras sente.”
O autor substitui a frase do renomado poeta da seguinte
forma: “O político é um fingidor e finge tão completamente, que finge que não é
político, para continuar a ser político”.
Cabe aqui uma aspas sobre o chamado processo representativo,
em que votamos em nossos representantes para
que justamente nos represente. Por mais imperfeições que esse sistema
apresente, ele passa a ser um instrumento interessante graças e esse contexto
sobre o fingimento acima descrito.
Como o ator político deseja e necessita do voto de
determinado segmento, ele passa a vida fingindo ser o mais interessado pelas
ambições daquele segmento, de forma que na prática, o que era para ser mero
fingimento, vira comportamento verdadeiro, haja vista, ser praticado o tempo
todo.
Citemos o exemplo do parlamentar que guarda sentimentos
racistas, porém, por sua atuação recebe muitos votos de determinada comunidade
negra, que cada vez mais o obriga a entrar na luta daquele segmento. Com o tempo,
aqueles pronunciamentos e atitudes que exteriorizavam de forma fingida, passa a
ser de caráter verdadeiro.
Tivesse essa mesma comunidade que depender do voto popular de
forma direta, numa cidade, na praça pública constituída de pessoas predominantemente racistas, teriam seus pleitos sistematicamente rejeitados já
que o fingimento não estaria em voga.
O ator político navega no imaginário coletivo criando um
papel para seu personagem, no cenário da mídia, capaz de fabricar, convencer e
mesmo engajar o cidadão em utopias (muitas das quais nunca poderão ser
realizadas), permitindo dessa forma a travessia do anonimato para a
visibilidade.
Apesar disso não se pode afirmar que o ator político seja desonesto. O
convencimento da coletividade ocorre porque ele também acredita em seus sonhos
de realizar as utopias que disseminou
para gerar a comoção coletiva. Os sonhos que vende, são na verdade seus
próprios sonhos. O autor cita como exemplos atores da importância de Jesus Cristo,
Napoleão Bonaparte e Hitler, entre muitos outros.
Não cabe aqui discutir suas utopias, mas apenas registrar a
evidência de que foram capazes de mover multidões pela certeza de que seus
sonhos eram possíveis.
A média dos atores não produzem fenômenos de convencimento de
massa como os acima citados, porém, constroem a certeza para os eleitores de serem
capazes de tornar o mundo melhor, mesmo que esse mundo não seja a Nação ou o Estado,
mas apenas uma cidade, um bairro ou uma corporação, ou seja, cria a expectativa
de realizar e de tornar possível a superação das questões menores no cotidiano
de cada cidadão.
O eleitor vive na cidade, no bairro e portanto, as chamadas questões
paroquiais (especialmente as relacionadas com saúde, educação, segurança e saneamento
básico), são sempre mais importantes que as grandes questões de Estado.
Destaca-se a dificuldade do ator estabelecer com precisão o
papel de seu personagem no teatro político, haja vista que sua atuação e seu discurso devem corresponder tanto ao
cenário da mídia e também da sua base eleitoral, visando o exercício da
representação popular.
Conclui a obra dizendo que o sucesso do ator político está
relacionado com a capacidade de provocar comoção coletiva, a exemplo do que
ocorre com os atores cênicos, tendo de construir um personagem no imaginário coletivo,
idêntico aos grandes artistas de outros espetáculos da mídia, muito embora o
objeto de seu discurso seja bastante diverso.
O LIVRO NÃO
ESTÁ À VENDA
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