terça-feira, 1 de outubro de 2013

18) 50 TONS DE CINZA

Art. 1o  Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

O artigo citado acima é da Lei 11.340/2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha. Essa Lei foi criada com objetivo de estabelecer medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

Assevera a referida Lei que toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Fora isso, a Lei assegura às mulheres as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.

Impõe que o poder público deve desenvolver políticas que visem garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Dispõe finalmente que na interpretação da Lei Maria da Penha, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar.

A pergunta que se faz é: Porque foi necessário criar uma legislação especial como a Lei Maria da Penha? Afinal, o Código Penal já não dispõe de previsão suficiente para punir crimes de violência contra quem quer que seja?

Reponde-se: Legislações especiais são criadas normalmente, porque a legislação ordinária não está sendo suficientemente eficaz para inibir determinados crimes. Daí temos legislações especiais para proteger a criança e o adolescente, o idoso, o índio, etc. Com a mulher não foi diferente.

E porque toda essa abordagem para comentar o livro 50 tons de cinza? Justamente porque o escopo do livro reporta sobre a tara sexual de um bilionário que consiste em fazer o que em toda a história da humanidade sempre foi feito. Submeter a mulher a torturas físicas e psicológicas.

O que mais intriga é o fato do livro ter sido escrito por uma mulher americana e bem sucedida, ou seja, totalmente distante da realidade de uma mulher pobre da África, da America Latina, da Ásia ou do Oriente Médio. Outro ponto instigante é o sucesso de vendagem.

Anastasia Rose Steele, a personagem principal do livro, vive um dilema por ter se apaixonado por Christian Grey, um dos homens mais cobiçados dos Estados Unidos, mas que é aficionado pelo BDSM, fazendo a linha de Mestre Dominador. 

Uma menina classe média baixa se apaixonar por um homem jovem, belo e rico não é nada difícil. O problema é ter que apanhar por isso.

O BDSM começou a ser difundido e vivenciado a partir de dois personagens históricos, cujos nomes originaram os termos Sadismo e Masoquismo. O sadismo proveio de Marques de Sade , já o masoquismo de Conde de Masoch. 
Uma obra famosa de Marquês de Sade foi “120 dias de Sodoma”. Nesta obra ele conta a história de quatro ricos homens libertinos que resolvem experimentar a definitiva gratificação sexual em orgias.

Para isso, eles se trancaram por quatro meses num castelo inacessível com um harém de quarenta e seis vítimas, a maioria adolescentes de ambos os sexos, e recrutaram quatro cafetinas para contar a história de suas vidas e suas aventuras.

A narrativa das mulheres se torna inspiração para abusos sexuais e tortura das vítimas, que escala gradualmente em intensidade e termina em assassinatos.
Sade escreveu "120 dias de Sodoma" no espaço de trinta e sete dias em 1785, enquanto estava preso na Bastilha. Tendo pouco material e temendo que o livro fosse confiscado, ele o escreveu numa letra minúscula e um rolo contínuo de papel com doze metros de comprimento. Quando a Bastilha foi atacada e saqueada em 14 de Julho de 1789 durante o início da Revolução Francesa, Sade pensou que o trabalho estaria perdido para sempre e chegou a escrever que "chorou lágrimas de sangue" por sua perda.

Porém, o longo rolo de papel onde o texto estava foi posteriormente encontrado escondido em sua cela, tendo escapado da atenção dos saqueadores. Ele foi publicado pela primeira vez em 1904 pelo psiquiatra berlinense Iwan Bloch (que usou um pseudônimo, "Dr. Eugen Dühren" para evitar a controvérsia). Somente na segunda metade do século XX é que o texto se tornou disponível em edições em inglês e francês.
O manuscrito original está preservado na Biblioteca Bodmeriana, em Coligny, nos arredores de Genebra, na Suíça.

Do outro lado, Leopold Ritter von Sacher-Masoch, conhecido como Conde de Masoch, foi um escritor e jornalista austríaco, que teve seu nome como referência ao termo masoquismo. O termo deriva de seu nome graças ao seu romance A Pele de Vênus (1870).
A história de A Pele de Vênus é protagonizada por Severin, um jovem nobre, cujo pai possuía terras na região da Galícia; e Wanda, uma também jovem viúva que vivia em sua propriedade nos Cárpatos.

A paixão entre os dois personagens se inicia com uma discussão sobre a possibilidade de efetiva felicidade das duas partes em uma relação duradoura entre homem e mulher.

Wanda e Severin discutem a possibilidade de uma relação entre homem e mulher trazer efetiva felicidade para ambas as partes. Uma suposta tendência a dominação rege a discussão, frequentemente representada pela figura de um martelo que golpeia uma bigorna, acusando que no amor um necessariamente domina (o martelo) e o outro necessariamente é dominado (a bigorna).

A solução para a discussão é o elemento que tornou célebre o livro de Sacher-Mascoh, Severin sugere a Wanda que seja o seu escravo, acordo que é selado com um contrato que põe a vida de Severin nas mãos de sua amada.

A história é salpicada de cenas em que o personagem é amarrado e chicoteado por Wanda e, mesmo, por uma cena em que ele é posto a puxar uma arado sob chicotadas.

Severin declara sentir prazer com tais experiências, durante as quais, pede que sua amante vista-se com roupas de peles de animais.

O prazer em sentir dor e humilhação relatados pelo escritor foram eternizados sob o termo derivado de seu nome masoquismo pelo psiquiatra Richard von Krafft-Ebing. Ficando ainda mais conhecido depois que Sigmund Freud o emprega.

No entanto, esse aspecto parece ser apenas o pano de fundo para a discussão da dominação no seio de uma relação amorosa; a qual Sacher-Masoch conclui ao final do livro: "[...]a mulher, tal como a natureza criou e como o homem atualmente a educa, é sua inimiga, podendo tão-somente ser sua escrava ou sua déspota - jamais a sua companheira. Isto, só quando ela tiver os mesmos direitos que ele, só quando por nascimento, pela formação e pelo trabalho, for igual a ele.".

Em alguns países do mundo, dentre estes o Brasil, a mulher vem conquistando esse status sonhado por Masoch, onde podemos perceber e sentir a manifestação da natureza feminina se aflorar, haja vista possuir uma tendência dominadora sem limites.

Meu ponto de vista de tudo isso é o seguinte: Tanto Marquês de Sade como Conde de Masoch eram homens nobres, brancos e ricos, que viveram na Europa nos séculos XVIII e XIX. Mesmo pertencendo no ápice da pirâmide social, política, econômica e racial das suas épocas, somente um realizou de fato seus desejos mórbidos sexuais, o que tinha fixação em submeter e sodomizar principalmente mulheres e crianças.

O que tinha fixação em ser escravizado por uma mulher, não teve condições de materializar seus desejos, tendo como único escape  a ficção, ou seja, escrevendo uma obra literária.

Trata-se de uma cultura alimentada por milênios de que um homem dominar sua esposa ainda é considerado aceitável, sendo que na medida inversa o marido seria considerado um banana, um frouxo ou coisa que o valha.

Interessante é que esse fenômeno atinge até mesmo aqueles que se dizem libertos dessa tendência, como por exemplo o público adepto do chamado BDSM.

É o caso da mulher dominadora que se realiza diante a sodomização do parceiro, especialmente quando ele está travestido.

Elas se utilizam do instrumento fálico e da feminização forçada do parceiro, para provocar o extremo da humilhação ao suposto “escravinho”. Só que mal sabe essa Senhora que está reproduzindo o bom e velho machismo, na medida que admite que tem que ser mulherzinha pra ser dominado e humilhado e tem que ter o objeto fálico para dominar e humilhar.

Em resumo, foi essa impressão que tive dos 50 tons de cinza. Nada de novo. Tudo velho. Tivesse narrado uma estória da mulher poderosa e rica desejando “construir” seu escravinho, montando, amarrando, batendo e pisando com seus saltos finos, possivelmente não causaria o êxtase que causou, em especial no público feminino.



Por se tratar de uma trilogia com outras duas obras (50 tons mais escuros e 50 tons de liberdade), pode ser que contenha esse contexto, haja vista uma personagem oculta descrita no 50 tons de cinza, que seria a provável responsável em tornar Christian Grey sádico daquela forma que tanto incomodava Anastasia. Não tive motivação da leitura das outras duas obras por puro preconceito em perder tempo com assunto tão velho na história da humanidade.

Mesmo porque, não comungo com essa corrente que acredita que a pessoa expressa determinada forma de sexualidade devido algum tipo de trauma ou coisa que o valha. Trata-se ainda de um cavernoso e desconhecido mundo que até pode admitir aparência desse contexto, mas cuja essência está abissalmente longe da nossa compreensão.

Comparo essa força da sexualidade com a força da gravidade. Esta se manifesta branda nos muitos planetas, mas poderosa e suprema nos buracos negros em que nem a luz escapa. Àquela se manifesta branda na maioria das pessoas, mas forte quando desvirtuada. Tão forte que quando a pessoa é acometida por desejos sexuais criminosos, ela, mesmo sabendo tratar-se de crime, não encontra forças para se abster, como é o caso dos pedófilos, necrófilos, zoófilos e tanatófilos, ou seja, pessoas que, motivados pela atração sexual, têm prazer em molestar criança, defunto, animal e até matar.

Sobre esse contexto, quando da prisão do advogado Marcos Colli, escrevi uma metáfora, comparando  a tara da pedofilia a um individuo condenado a andar sua vida toda sobre o arame. Para quem não leu, segue a integra na próxima publicação. 

Já o Sadomasoquismo, assim como o homossexualismo, vêm conquistando cada vez mais um espaço de tolerância, haja vista o caráter consensual que os cerca, envolvendo normalmente duas pessoas conscientes e adultas, que contratualizam uma relação tida como anormal ou pervertida.

O 50 tons de cinza, penso eu, tenta amenizar essa relação BDSM que começa a sair das revistas e filmes pornográficos tidos como  pervertidos, para uma discussão romântica e literária, mesmo que na égide machista, tão velha como a própria humanidade.

Noutra ponta, como aperitivo fetichista, pra quem curte três modalidades bastante difundidas na relação SM de mulheres que adoram pisar, montar ou sentar no rosto do parceiro, basta acessar o youtube e pesquisar:

Trampling ou trample para ver mulheres pisando;

Ponyboy para ver mulheres montando em seus cavalinhos humanos;

Facesitting para ver mulheres sentando sobre a face ou cabeça do parceiro.

Veja ainda face trampling e hand trampling e deixe sua opinião.

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