Um livro escrito por
Gilbert Keith Chesterton, que segundo consta na Wikipédia, foi escritor, poeta,
narrador, ensaísta, jornalista, historiador, biógrafo, teólogo, filósofo, desenhista e conferencista
britânico.
Filho de
Edward Chesterton e de Marie Louise Grosjean, Gilbert Keith Chesterton era o segundo de três irmãos. Casou-se com
Frances Blogg. Concluiu os estudos secundários no colégio de São Paulo
Hammersmith onde recebeu prêmio literário por um poema sobre São
Francisco Xavier.
Ingressa
na escola de arte Slade School de Londres (1893) onde inicia a carreira
de pintura que vai depois abandonar para se dedicar
ao jornalismo e à literatura. Escreveu no Jornal Daily News.
Seu currículo ajuda a
sedimentar a máxima de que ideologias, crenças, descrenças, fanatismos, intolerância
e todas outras espécies de estereótipos da natureza humana, não escolhe classe
social, econômica e nem intelectual.
Existem ateus de
currículos e Q.Is invejáveis, cristãos em todas as suas correntes, muçulmanos
em todas as suas correntes, budistas, agnósticos, religiões afro, religiões
indígenas, seguidores de seitas, marxistas, liberais, anarquistas e tantas
outras correntes ideológicas e religiosas que se imagine.
Dono de uma retórica
incisiva que beira a arrogância e prepotência, o autor, ao meu ver, comete um
sacrilégio no sentido em excluir totalmente Maria, a mãe de Jesus, na referida
obra. O motivo é único: Ortodoxia é um livro que se propõe a defender os valores cristãos contra os chamados valores modernos, e simplesmente ignora um ícone do dogma cristão que é
a existência e até mesmo a virgindade de Maria.
O mais surpreendente é que Gilbert Chesterton
traçou um caminho inverso no que diz respeito a conversão nas correntes
internas do cristianismo, ou seja, nascido de família anglicana, em 1922
converteu-se ao catolicismo por influência do escritor
católico Hilaire Belloc, com quem desde 1900 manteve uma
amizade muito próxima.
Em suma, Gilbert
Chesterton não era aquele católico que estamos acostumados a conhecer
cotidianamente que nasceu em lar católico, etc. Gilbert Chesterton converteu-se
ao catolicismo depois de adulto, o que vale dizer que aceitou todos os dogmas
inerentes à religião romana.
Para ser ter uma ideia, ao falecer, deixou todos os seus
bens para a Igreja Católica. Encontra-se sepultado no Cemitério Católico Romano, Beaconsfield, em Buckinghamshire na Inglaterra.
A sua obra foi reunida em quase
quarenta volumes contendo os mais variados temas sob os mais variados gêneros.
O Papa Pio XI foi grande admirador de
Chesterton a quem conhecera pessoalmente.
Daí a minha crítica em
ignorar Maria na obra dita ortodoxa.
Existem diversas sociedades de estudos Chestertonianos no
mundo. Nos Estados Unidos existe a AmericanChesterton Society, na Inglaterra existe The
Chesterton Societye no Brasil existe um site criado em homenagem a Chesterton chamado Sociedade Chesterton Brasil.
VAMOS
AO LIVRO
Nas colunas extensivas da
capa o autor é apresentado da seguinte forma: O MARCO DO PENSAMENTO CRISTÃO DO
SÉCULO XX. Ao contar sua jornada espiritual, G.K. Chesterton faz saber à
intelligentsia européia da primeira metade do século XX que o socialismo, o relativismo,
o materialismo e o ceticismo estavam longe de responder às questões existenciais
mais profundas. E quando questionado sobre as aparentes contradições da fé
cristã, Chesterton era um mestre em valer-se do paradoxo para apresentar a
simplicidade do senso comum.
Seu jeito despojado, seu
estilo incisivo e a facilidade de rir de si mesmo tornaram célebres seus
debates com intelectuais da época, como George Bernard Shaw, H.G. Wells,
Bertrand Russell e Clarence Darrow.
Com 263 páginas o livro
trata na introdução, “em defesa de tudo o mais” o autor inicia dizendo que o
referido livro trata de uma resposta a um desafio e afirma: “Mesmo um mau
disparo tem sua dignidade quando se aceita um duelo.”
Mais a frente: “Tentei fundar uma heresia só
minha; e quando lhe dei o último acabamento descobri que era a ortodoxia.” E
conclui esse capítulo afirmando que ortodoxia significa “o credo dos
Apóstolos”.
O Capítulo II o autor
denomina “O Maníaco”. Alega tratar-se de um capítulo puramente prático que diz
respeito àquilo que constitui a marca e o elemento principal da insanidade.
Sob esse contexto faz as
seguintes afirmações: “Acreditar em si mesmo é uma das marcas mais comuns de um
patife.” – “A imaginação não gera insanidade. O que gera insanidade é
exatamente a razão.” – “Aceitar tudo é um exercício. Entender tudo é uma
tensão.” – “O louco é um homem que perdeu tudo exceto a razão.” – “Todas as
idéias inteligentes são estreitas.” – “Enquanto se tem um mistério se tem
saúde; quando se destrói o mistério se cria a morbidez.”
Com relação a essa última
frase o autor afirma que todo o segredo do misticismo é este: que o homem pode
compreender tudo com a ajuda daquilo que não compreende. O lógico e mórbido
procura tornar tudo lúcido e consegue tornar tudo misterioso.
O autor leva essa coisa de
misticismo tão a sério que abriu um Capítulo denominado a Ética da Eufolândia
(Capítulo IV). Num determinado ponto desse capítulo afirma:
“Todos os termos usados nos livros de ciência, “lei”, “necessidade”,
“ordem” e assim por diante, são realmente não intelectuais, porque pressupõem
uma síntese interior, que nós não possuímos. As únicas palavras que sempre me
satisfizeram como descrição da natureza são os termos usados nos contos de
fada, “sortilégio”, “feitiço”, “encantamento”.
Na minha opinião são
frases soltas sem compromisso filosófico profundo. Bem diferente quando afirma
que um círculo pequeno é exatamente tão infinito quanto um círculo grande; mas,
embora seja tão infinito, não é tão grande.
Nessa linha diz que muitas vezes:
“As partes parecem maiores que o todo.”
Outra frase de impacto que
gostei é de que: “Um cristão só é
limitado no mesmo sentido em que um ateu é limitado”. Nesse aspecto sempre
afirmo: Tão difícil que provar a existência de Deus é provar sua inexistência.
Dessa forma discordo quando Chesterton afirma que “Os materialistas e os loucos nunca têm dúvidas”.
No Capítulo III o autor
estabelece um título denominado “O Suicídio
do Pensamento”.
Concordo quando ele diz
que o mundo moderno não é mau e que na verdade é bom demais. Já afirmo há muito:
quem fala mal da modernidade, não tem ideia do que era viver uma vida com dores
que hoje são facilmente administradas, não imagina um mundo sem qualquer
sistema de esgoto, sem luz, sem água tratada, sem saúde pública.
Já o autor é da opinião
que os credos e as cruzadas , as hierarquias e as horríveis perseguições foram
organizadas para defender a razão.
Num determinado ponto
deste capítulo o autor afirma que a teoria da evolução (a qual eu me filio) é
uma descrição científica inocente, assim como o panteísmo é
ingênuo.
Se não bastasse ele
dedicar um Capítulo a conto de fadas, diria para ele sem qualquer
constrangimento que: se a teoria da evolução é inocente e o panteísmo é ingênuo,
a teoria da criação é infantil.
Eu acho engraçado as
pessoas terem dificuldade em admitir que Deus tenha criado o mundo do jeitinho
que ele é. Sem as mágicas que insistem que tenham ocorrido. Arca com casal de
bichinhos, mar que se abre, carruagem de fogo. Dá impressão que foi o Monteiro
Lobato que escreveu tudo isso.
Ele diz que cada ato de
vontade é um ato de auto-eliminação e que quando escolhemos uma coisa qualquer,
rejeita-se tudo o mais. Eu digo que ato de eliminação e não auto-eliminação.
Diz que no momento que
adentramos no mundo dos fatos, adentramos no mundo dos limites. Eu diria que
não entramos no mundo dos fatos, mas nascemos nele e vislumbramos o mundo
abstrato que aceita estabelecer esse monte de misticismo e deslumbramento.
Demonstra noutro ponto um
anti-nietzschismo implacável, pois, o coloca como um cético e como tal, sabia
escarnecer embora não soubesse rir e que o amolecimento do cérebro que no fim o
atingiu não foi um acidente físico. Que se o Nietzsche não houvesse acabado na
imbecilidade, o nietzcheanismo o teria feito. Conclui dizendo que todos os
homens que não passam por um amolecimento do coração devem, no mínimo, passar
pelo amolecimento do cérebro.
Por fim, ataca Nietzsche e
Tolstoi através
de Joana D’arc nos seguintes termos:
“Bem, Joana d’Arc tinha tudo aquilo, e mais uma vez como uma diferença:
ela não elogiou a luta, mas lutou. Sabemos que ela não temia um exército,
enquanto Nietzsche por tudo o que sabemos , tinha medo de uma vaca. Tolstoi
elogiou os camponeses; ela foi a camponesa. Nietzsche apenas elogiou o
guerreiro; ela foi a guerreira. Ela superou os dois nos seus ideais
antagônicos: foi mais gentil que o primeiro; mais violenta que o segundo. No
entanto, ela foi uma pessoa extremamente prática que realizou alguma coisa,
enquanto eles são tresloucados especuladores que nada fizeram.”
Afirma que o amor de um
herói é mais terrível do que o amor de um tirano e que o ódio de um herói é
mais generoso do que o ódio de um filantropo. (só não conclui se o terrível foi
num sentido positivo ou negativo).
O Capítulo IV como
dissemos divaga em temas infantil e imaginário. O autor aproveitou esse
capítulo pra dizer tudo que tinha vontade, sem compromisso com nada.
Por exemplo: ao fazer um
paralelo entre a lenda e a publicação de um livro afirma que “a lenda,
geralmente é criada pela maioria dos povos da aldeia, gente equilibrada. O
livro, geralmente é escrito pelo único homem da aldeia que é louco."
Pergunto: E se for um
livro de lenda? E se a lenda for sobre uma planta medicinal?
Realmente, Gilbert
Chesterton foi um fanfarrão nesse capitulo IV. Veja o que ele afirma num outro
ponto:
“De fato um bebê é praticamente a única pessoa, na minha opinião, para quem se pode ler um romance realista
sem entediá-la. Isso prova
que até os contos infantis apenas ecoam um salto quase pré-natal de interesse e
espanto.”
Notem que destaquei “na
minha opinião” e ‘Isso prova”. Num primeiro momento vomita uma opinião e em
seguida afirma que isso prova alguma coisa. Na verdade o autor faz isso o tempo
todo, só que não de uma forma tão direta como essa.
Uma afirmação que gostei é
quando ele fala sobre o vidro. "O vidro é eterno até que o quebrem, de forma que
o fato de ser quebrável não implica que o vidro é perecível, haja vista que se
nunca o quebrar ele resiste milhares de anos."
Por incrível que pareça, todo
o esforço que o autor dedica no Capítulo IV para validar o imponderável e
místico, o faz para concluir que devemos obediência e gratidão, de forma que o
defini como uma espécie da Cazuza às avessas.
Um pregava a rebeldia pela
rebeldia, este a obediência insensata, a ponto de afirmar no Capítulo VII que:
“Não temos de modo algum de nos rebelar
contra a antiguidade: temos de nos rebelar contra a novidade.”
O Capítulo V apresenta um
título denominado “A Bandeira do Mundo”, traça um paralelo entre o otimismo e
pessimismo, e dentro desse contesto professa algumas frases de efeito:
“Um otimista é alguém que procura os seus olhos, e um pessimista é
alguém que procura os seus pés.”
“A decoração não se destina a esconder coisas horríveis; mas enfeitar as
coisas já adoráveis.”
“Roma não foi amada por ser grande. Ela foi grande por ter sido amada”
“O amigo de um homem gosta dele como ele é; sua mulher o ama e está
sempre tentando transformá-lo em outra pessoa.”
“O homem que mata um homem, mata um homem. O homem que se mata, mata
todos os homens; no que lhe diz respeito, ele elimina o mundo.”
“Um mártir é um homem que se preocupa tanto com alguma coisa fora dele
que se esquece de sua vida pessoal. Um suicida é um homem que se preocupa tão
pouco com tudo que está fora dele que ele quer ver o fim de tudo. Um quer que
alguma coisa comece; o outro, que tudo acabe.”
Num determinado momento o
autor assim se manifesta:
“Surgiu na controvérsia moderna o hábito imbecil de dizer que tal e tal
crença pode ser sustentada numa época, mas não em outra. Alguns dogmas, dizem,
eram críveis no século XII, mas não no século XX. Alguém poderia igualmente
dizer que determinada filosofia pode ser abraçada na segunda-feira, mas não se
pode acreditar nela na terça. Alguém poderia também falar que determinada visão
de mundo é adequada às três e meia, mas não às quatro e meia. Aquilo em que um
homem pode acreditar depende de sua filosofia, não do relógio ou do século.
Quem acredita numa lei natural inalterável não pode acreditar em nenhum milagre
em nenhuma época.”
Nesse aspecto que afirmo
que o autor passa dos limites e vira um chutador. Parece àquela pessoa que
chama o outro de “inguinorante”, se esquecendo que quem fala “inguinorante”,
ignorante também é.
Essa assertiva é tão
furada, haja vista que teve épocas sim que determinados correntes dogmáticas se
faziam bastante presente na sociedade como o caso de se acreditar que escravos
não tinham alma.
E quando toda a humanidade
acreditava que o planeta era plano e não esférico? Mudava a realidade das
coisas? É habito imbecil fazer essa verificação?
O pior é que logo nas
páginas seguintes já se contradiz ao afirmar: “Esse lado perverso do otimismo meramente externo também se mostrava no
mundo antigo. Por volta da época em que o idealismo estoico começava a mostrar a fraquezas do otimismo.”
Noutro ponto: “A complicação do nosso mundo moderno prova a
verdade do credo mais perfeitamente do que qualquer um dos simples problemas
das épocas de fé.”
De repente, o hábito
imbecil de dizer que tal e tal crença pode ser sustentada numa determinada época
passou a ter razão de ser? O fato é que o autor adorava decretar “verdades”.
No Capítulo VI o autor se
dedica a abordar os paradoxos do cristianismo, afirmando que o único propósito
deste capítulo é mostrar a “verdade”, como se isso fosse fácil.
Assevera ao se referir ao
cristianismo (e eu concordo) que: “uma
instituição histórica, que nunca deu certo, é realmente um milagre.”
Possivelmente se referiu à Igreja Católica.
E mais a frente conclui: “Mas o cristianismo fez mais; ele demarcou
seus limites nas terríveis sepulturas do suicida e do herói, mostrando a
distância entre quem morre por amor à vida e quem morre por amor à morte.”
Sobre a caridade afirma: “A caridade é um paradoxo, como a modéstia e
a coragem. Mal formulada, a caridade certamente significa uma das duas coisas:
perdoar atos imperdoáveis ou amar pessoas não amáveis.”
Nesse sentido alega que o
cristianismo, através da caridade, separou o crime do criminoso dizendo: “Ao criminoso devemos perdoar setenta vezes
sete. Ao crime não devemos perdoar de modo algum.”
Enfatizou que “Esse foi o grande feito envolvendo a ética
cristã; a descoberta de um novo equilíbrio.” E sobre esse equilíbrio: “A igreja não poderia se dar ao luxo de
oscilar um milímetro em alguns pontos, se quisesse continuar seu grande e
ousado experimento do equilíbrio irregular.”
Nesse sentido: “A igreja em seus primeiros dias correu
violenta e velozmente com qualquer cavalo de batalha; no entanto, é totalmente anti-histórico
dizer que ela apenas cometeu loucuras apegando-se a uma única ideia, como um
fanatismo vulgar. Ela curvou-se para a esquerda e para a direita na medida
exata a fim de evitar enormes obstáculos.”
Minha observação quanto a
este capítulo VI é no sentido de que a Religião é livre para impor suas
“verdades” ou dogmas, diferente da ciência que exige método, tentativa e prova.
O Capítulo VII o autor se
dedica em abordar a eterna revolução, afirmando “que não há na natureza nenhuma igualdade; mas também não há nenhuma
desigualdade. A desigualdade, tanto quanto a igualdade, implica um padrão de
valores.”
Nesse sentido: “a natureza não diz que os gatos são mais
preciosos que os ratos; a natureza não faz nenhuma observação sobre o assunto.”
Usa é abusa da metáfora
para formular suas convicções, muito embora ataca impiedosamente Nietzsche
dizendo que o filósofo alemão “sempre se
evadia de uma questão usando uma metáfora física, como um jovial poeta menor.”
Só que poucos parágrafos à
frente afirma: “Deus não nos deu exatamente as cores de um quadro, mas sim as
cores de uma paleta.” E que: “se você
quer tratar um tigre racionalmente, precisa retroceder ao jardim do Éden.”
Ora, se isso não for
metáfora, o que será? Aliás, muito mais gente é vítima da metáforas e
contradições da bíblia do que das obras imortais dos pensadores.
Numa espécie de revolta
contra o evolucionismo o autor assevera que “não temos de modo algum de nos rebelar contra a antiguidade; temos de
nos rebelar contra a novidade.”
Cabe registrar nesse
aspecto que a tecnologia liberta. Tire toda tecnologia e veremos a volta
da escravidão com suas justificativas. Não se trata de mera questão ética como
o autor faz questão de afirmar.
No Capítulo VIII o autor
sustenta existir um romance da ortodoxia e nesse aspecto traça diversas
contextualizações sobre o budismo e o cristianismo, dizendo que “O budista está olhando com uma atenção
peculiar para dentro. O cristão fixa os olhos com desvairada atenção para fora.”
E conclui: “É exatamente nesse ponto que
o budismo fica ao lado do panteísmo e da imanência modernos. E é exatamente
nesse ponto que o cristianismo fica ao lado da humanidade, da liberdade e do
amor.”
A sorte do autor é que os adeptos
do budismo não são fundamentalistas e adeptos ao ódio contra quem julgam
infiéis, pelo contrário, por se escorarem na tolerância não apresentam qualquer
retaliação como aconteceu com outro jornalista inglês.
Afirmar que somente o
cristianismo está do lado da humanidade e que existe um abismo intelectual entre
ambos é de uma deselegância sem limites.
Conclui o capítulo dizendo
que se a fé é a mãe de todas as energias deste mundo, os inimigos da fé são os
pais de toda confusão do mundo.
Fico a imaginar quem seria
os inimigos da fé? Alega o autor que os tais inimigos não provam que Adão não
foi responsável perante Deus e portanto não deveria ter sido punido por Deus,
mas se limitam a provar apenas que o Czar não é responsável perante a Rússia ou
que o patrão explorador não deveria ser punidos pelos homens.
A pergunta que se faz
nesse campo é quem da certeza de algo? Quem prova a existência de Adão? A fé é
algo tão individual como a vontade.
O problema é que o tempo
todo, o autor cria uma hipótese absurda e em seguida lança um desafio ou
afirmação tomando como ponto de partida essa hipótese.
O último Capítulo (o IX),
o autor denomina “A autoridade e o
aventureiro”.
Um trecho que destaquei
foi o que o autor diz o seguinte: “Se me
perguntarem, num sentido puramente intelectual, por que acredito no
cristianismo, só posso responder assim: “Pela mesma razão que faz um agnóstico
inteligente não acreditar nele.” Acredito no cristianismo de modo totalmente
racional, com base na evidência. Mas a evidência no meu caso, como no caso do
agnóstico inteligente, não está nesta ou naquela alegada demonstração; está num
enorme acúmulo de fatos pequenos, mas unânimes.”
Tal assertiva trata-se de
um silogismo impróprio. Eu posso usar esse argumento para validar qualquer
crença, até mesmo as mais absurdas.
Ao traçar um paralelo
sobre o homem e os animais para atacar a tese da semelhança na sua forma,
estrutura e sexualidade, possivelmente para aniquilar a teoria da evolução, o
autor alega:
“O fato de um macaco ter mãos é muito menos interessante para o filósofo
do que o fato de que, tendo mãos, ele não faz quase nada com elas; não estala
os dedos, nem toca violino; não entalha o mármore, nem trincha costeletas de
carneiro....” “Os elefantes não constroem colossais templos de marfim nem mesmo
no estilo rococó; os camelos não pintam nem mesmo quadros ruins, embora estejam
equipados com o material de muitos pincéis de pêlo de camelo.”
“Certos sonhadores modernos dizem que as formigas têm uma organização
social superior à nossa. Elas têm de fato uma civilização; mas exatamente essa
verdade só nos faz lembrar de que é uma civilização inferior. Quem jamais
descobriu um formigueiro decorado com as estátuas de formigas famosas? Quem já
viu uma colméia na qual estivessem esculpidas as imagens de esplêndidas rainhas
de outrora?”
Até o presente momento
assumo que filio-me a escola evolucionista, até que me convençam do contrário
de forma racional e não emocional.
Tenho convicção que muitos
animais cujas anatomias favorecem, têm evoluído de forma lenta mas perceptível.
Um chimpanzé de hoje faz muito mais coisas que um ancestral seu distante,
justamente porque o homem vem lhe dando oportunidade para tal.
Eis aí um ponto que os
criacionistas não enfrentam de forma honesta. Costumam vir com àqueles
discursos enfadonhos de que se o homem tivesse evoluído de um primata, outros
primatas também estariam evoluindo. Em primeiro lugar carvões não se tornam
diamantes diariamente de forma que possamos perceber. Em segundo lugar, o
extinto da sobrevivência impõe regras que classificamos como perversas, dentre
elas anular o mais fraco.
Óbvio que o primata que
evoluiu primeiro impôs condições de sobrevivência que de certa forma retardou a
evolução de outros primos. O fato é que no século XX muitas espécies foram
estimuladas e corresponderam a desenvolver certa evolução.
Quantos milhões de anos o
homem demorou para construir a primeira estátua? Só pra ficar nesse exemplo
citado pelo autor?
O interessante é a forma dele
fazer determinada pergunta. Por exemplo: “Quem
jamais descobriu?” Eu respondo: Eu jamais descobri um formigueiro decorado
com as estátuas de formigas famosas. Se a pergunta fosse quem descobriu, daí
sim a resposta é provavelmente ninguém.
Interessante é que num
outro trecho dá uma certa impressão de pensamento evolucionista, senão vejamos:
“... o abismo entre o homem e as outras criaturas pode ter uma explicação
natural, mas é um abismo. Falamos de animais selvagens; mas o único animal
selvagem é o homem. Foi o homem que se evadiu.” Ora, o que é essa evasão se
não é a evolução?
O fato é que nesse século
o projeto genoma descobriu que pouca diferença há, do ponto de vista genético,
entre o homem e a mosca, só pra ficar nesse exemplo.
O que esperar de uma pessoa que
acredita (e escreve) que a história não diz nada? Que a ciência não sabe nada
sobre o homem pré-histórico pelo fato do homem ser pré-histórico?
Esse é o estilo Chesterton
de ser. Fala o que lhe vem na cabeça. Chega a afirmar que: “Os países da Europa que ainda são
influenciados pelos sacerdotes são exatamente aqueles onde ainda há canto e
dança e roupas coloridas e arte ao ar livre.” Parece que mesmo sendo inglês
não sabe nada sobre a Índia e a África que fazem escola de cantoria, dança e
roupas coloridas.
Ao falar sobre crença o
autor escreve: “É simplesmente justo
acrescentar que há um outro argumento que o descrente pode usar racionalmente
contra os milagres, embora ele geralmente se esqueça de usá-lo. Ele pode dizer
que houve, em muitas histórias de milagres, uma noção de preparação e aceitação
espirituais; em suma, que o milagre só podia acontecer para quem acreditava
nele.”
Nesse ponto ele reconhece
que isso pode ser verdade, porém indaga: “Se
for verdade, como devemos testá-los?” Daí responde: “Se estamos indagando se certos resultados acompanham a fé, os sem fé
têm o mais saudável direito de rir, mas não tem o direito de julgar.”
Uma coisa é certa. Hindus vêem
milagres hindus. Budistas milagres budistas, judeus milagres judeus, muçulmanos, católicos e protestantes idem.
Ao meu ver, milagre é todo
fenômeno que não conseguimos explicar, porém contido no cardápio das leis
universais que em determinado momento pode ser explicado ou revelado. Ex. falar
ao celular no século XIX seria um milagre, hoje não mais.
Mas não demora muito e o
autor, faz o que mais gosta: usar e abusar do sofisma desconexo: “O fato de os fantasmas preferirem a escuridão
não refuta a existência de fantasmas mais do que o fato de os amantes
preferirem a escuridão refuta a existência do amor.”
Em outro momento: “Um fantasma falso refuta a realidade de
fantasmas exatamente da mesma forma que uma nota falsa refuta a existência do
Banco da Inglaterra – se ela prova alguma coisa, prova a existência desse
banco.”
Com todo respeito aos seus discípulos, essas afirmações
desconexas e sem qualquer compromisso filosófico retira do autor credibilidade
sobre o que defende e o que ataca.
Outro ponto que chama atenção
a um outro debate interessante é quando o autor afirma: “Ora, quando a sociedade está fazendo um estardalhaço fútil acerca da
sujeição das mulheres, será que ninguém dirá como cada homem está endividado à
tirania e ao privilégio das mulheres, ao fato de que somente elas dominam a
educação até que a educação se torne fútil? Pois um menino só é enviado à
escola quando já é tarde demais para lhe ensinar alguma coisa.”
“A verdadeira educação já está pronta, e graças a Deus ela é quase
sempre feita por mulheres. Todos os homens tornam-se femininos, simplesmente
por nascerem. Fala-se da mulher masculina; mas todos os homens são feminizados.”
Em primeiro lugar,
possivelmente o autor analisou a realidade inglesa de meados do século XX
quando se refere à tirania e ao privilégio das mulheres, dando entender não existir
a dita sujeição.
No Brasil é comum ocorrer
esse tipo de confusão tomando como realidade a mulher de classe econômica mais
favorável ou de determinada região do país.
As pessoas não fazem ideia
da opressão vivenciada nos grotões miseráveis e machistas. Mesmo aqui no Sul do
País, dependendo da condição sócio cultural já presenciei cenas da própria família
da mulher impor-lhe obediência cega a seu marido. Imagina-se nos confins da
África, Índia e diversos países árabes e asiáticos.
Um outro ponto foi com
relação de todos os homens ternar-se femininos simplesmente por nascer. Num
ensaio que faço sobre a questão da homossexualidade que está tão em voga, faço um paralelo nesse aspecto, só que sob o contexto
científico biológico, haja vista que nas células somáticas humanas são encontrados 23
pares de cromossomos. Destes, 22 pares são semelhantes em ambos os sexos e são
denominados autossomos. O par restante compreende os cromossomos sexuais, de
morfologia diferente entre si, que recebem o nome de X e Y. No sexo feminino
existem dois cromossomos X e no masculino existem um cromossomo X e um Y. Os
livros que tratam desse assunto identificam os 23 pares masculinos como 44+XY
[(22x2)+1) e os 22 pares femininos como 44+XX [(22x2)+1).
Nesse sentido, para desespero dos machistas, não é falsa premissa afirmar que todo homem possui sua porção mulher, uma vez que tem dentro de si um gene recessivo “X”, ou seja, todos os homens são heterozigotos na carga genética sexual.
Nesse sentido, para desespero dos machistas, não é falsa premissa afirmar que todo homem possui sua porção mulher, uma vez que tem dentro de si um gene recessivo “X”, ou seja, todos os homens são heterozigotos na carga genética sexual.
Por outro lado, a mulher não tem qualquer porção masculina, pois seu gene sexual é homozigoto constituído por dois “X”.
Encerro minhas impressões sobre o livro destacando que toda a
obra foi esboçada sob a égide de fragmentações impostas sem qualquer
compromisso lógico cognitivo. Como dito alhures; um livro que se propôs tratar
da ortodoxia cristã deveria abordar o dogma reservado à mãe de Cristo, mas
passou de largo.
Por outro lado, como também destacado, apresenta diversas
visões importantes, dignas de registro como fiz questão de imprimir.
O referido livro pertence ao amigo Milton Galvão (que é
evangélico ortodoxo) e que me sugeriu a leitura. Não sei se esperava tanto, e
espero que aprecie esse método de trazer a baia da discrição da obra, da
crítica e discussão.