quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

2) TRANSPORTE PÚBLICO X PLANILHA DE CUSTO



O tema é pertinente porque em todo Brasil reina essa eterna polêmica sobre preço da passagem do ônibus. O núcleo central dessa discussão passa pela malfadada Planilha de Custos, que nada mais é que um eficiente instrumento de manobra, cuja principal missão é validar qualquer preço de tarifa que se deseje praticar.

Se você deseja fazer um fretamento de ônibus ou de Van, a discussão do preço gira em torno da quilometragem, ou seja, do percurso desejado e quanto custará por quilômetro rodado, não importando tanto a quantidade de pessoas que vão usufruir.

Já o setor de transporte coletivo, aproveitando-se do monopólio que sempre esteve mercadologicamente ancorado no setor, criou esse bicho papão para tornar um negócio lucrativo num seleto cartório milionário e até bilionário.

Tudo que diz respeito a veículos automotores não tem 100 anos de existência, donde apenas duas ou três gerações foram responsáveis por toda a organização de adaptação, instrumentalização e fenômenização de todas as variáveis possíveis que se possa imaginar dentro do setor.


Desde as regras de mercado, legislações, proteções e autorizações, começaram a ganhar força somente após a década de 30, com o advento da primeira guerra mundial.

Vale dizer que o pai ou o avô dos atuais proprietários de empresas de ônibus urbanos do Brasil foram os responsáveis pelas regras estabelecidas no sistema, incluindo ai a criação dessa fórmula secreta e esperta chamada Planilha de Custos.

Alguém imagina se há 40 ou 50 anos atrás algum usuário do serviço de transporte coletivo foi chamado a participar da elaboração da Planilha de Custos, que foi proposta pela elite do sistema e rapidamente disseminada em todo o Brasil e que vigora até os dias atuais? Óbvio que não, pois, muitos economistas tem dificuldade em entender os meandros da engenharia financeira aplicada nesse labirinto já institucionalizado pelos operadores do sistema.

Basta dizer que no Brasil dos anos 30 e 40 tinha tudo a ser feito. Os pioneiros do setor realmente foram desbravadores, mas sabiam que seria um caminho sem volta, já que no mundo civilizado o sistema já dava sinais de prosperidade.

Os poderes públicos de então eram reféns desses empresários abnegados, pois toda a economia dependia do ir e vir das pessoas e das mercadorias.

Dessa forma, a primeira discussão foi no sentido a recompensar esses desbravadores que literalmente amassaram o barro, resultando em contratos de exclusividade sob períodos bem longos, com a finalidade de recuperar o trabalho e o capital empregados.

Com o êxodo rural que o Brasil viveu no período, não é difícil concluir que essa recompensa veio bem rápido, já que as cidades começaram a crescer a olhos vistos. Em apenas uma década (no máximo duas), aquelas empresas familiares de transporte público, passaram a firmar-se como grandes empresas e em alguns casos grandes conglomerados, despertando inveja e ambição de muitos, incluindo ai pessoas ligadas ao órgão concedente que é o poder público.

Políticos que se achavam no direito de pedir dinheiro aos empresários do setor por entender que esses enriqueceram graças à concessão permitida, forçavam os empresários tirar do próprio povo usuário, via aumentos sucessivos das tarifas. Já os empresários, por sua vez, temerosos de que o apetite dos mandatários fosse cada vez mais voraz, (que normalmente é) necessitavam de não deixar muito claro a fatia de lucro a eles inerente, até porque, corriam o risco de ter que repartir o bolo como se fosse uma sociedade.

Foi ai que os empresários que melhor se organizaram introduziram no sistema, e goela abaixo do poder público, a engenharia pitagoriana da tal Planilha de Custos. Isso ocorreu aproximadamente na década de 70, ou seja, 40 anos atrás.

Num primeiro momento essa manobra foi até boa para os usuários, pois os empresários mais sérios, mesmo tendo que apadrinhar alguns políticos, não queriam inviabilizar o sistema a ponto de serem obrigados a cobrar tarifas impraticáveis para atender o apetite de alguns prefeitos. A planilha servia nessa primeira fase como instrumento regulador dessa odiosa demanda.

Como tudo na vida que se torna viável e lucrativo, óbvio que a engenharia das Planilhas de Custos também foi utilizada como eficiente método de maquiar lucros excessivos, sujeitos a tributação e redistribuição. A ponto de levar a uma família do setor, constituir uma das maiores empresas aéreas do Brasil, como foi o caso da família Constantino que administra o transporte coletivo urbano de quase a metade de país.

O pior é que tudo é financiado a custa do suor da população que vive na base da pirâmide social

Não estamos mais no Brasil dos anos 30. Ninguém precisa mais ser recompensado pelo pioneirismo. O Ministério Público hoje já é bem organizado e capacitado para estancar o apetite dos políticos que tentarem extorquir o setor.

Para o bem de todos, especialmente dos usuários, precisamos acabar com o monopólio do setor, permitindo a entrada de pequenos concessionários do serviço, que deverão cobrar do poder concedente por quilômetro rodado e não por aplicação de planilha de custos. Os prestadores devem ser contratados via licitação na modalidade pregão eletrônico, impulsionando assim para um serviço de excelência por um preço justo e transparente.


A nova ordem mundial exige mudanças de paradigmas para preservação do planeta, e uma delas é atrair as pessoas para o transporte público. Para isso o sistema não pode mais ser tratado como um cartório sob o poder de meia dúzia de famílias.

domingo, 17 de janeiro de 2010

1) VOCÊ ACREDITA NO DESTINO?


Antes da existência do “Homo Sapiens”, todos os acontecimentos eram somente fatos. Desde o cair de uma folha da árvore, da água da cachoeira, o abate da presa pelo animal predador, as tempestades, os maremotos, os terremotos, a queda de um meteoro na superfície terrestre, o peixe nadando, a espécie evoluindo, etc, etc.

A partir da existência de um ser filosófico e pensante, dotado de vontades e de poder de decisão, o universo dos fatos passou a ganhar uma espécie de outros fatos, chamados de ATOS HUMANOS, donde concluímos que: todos os ATOS HUMANOS são fatos, mas, nem todos os fatos dependem da vontade humana.

Desde então, o primeiro choro da criança, o primeiro beijo, o primeiro tapa na cara, o primeiro furto, o primeiro homicídio, e tantos outros atos humanos passaram a fazer parte de uma galeria de acontecimentos provocados e que passaram a somar aos milhares de trilhões de fatos produzidos diariamente pela natureza.

Isso mesmo; são milhares de trilhões de atos humanos, somados a milhares de trilhões de fatos da natureza, que compõem todos os acontecimentos do nosso dia-a-dia.

Existem atos que duram apenas um milésimo de segundo, como é o caso de um piscar de olhos, mas, a maioria dos atos humanos se realiza em um, ou poucos segundos, como é o caso de atirar uma pedra, a batida de um automóvel, um beijo, a injeção na veia, o grito de socorro, o tiro do revólver, e tantos outros fatos.

Considerando que o dia de 24 horas é composto de 86.400 segundos e o planeta tem aproximadamente 6 bilhões de pessoas, chega-se a aproximadamente 500 quatrilhões de atos humanos por dia.

Ocorre que esse número pode ser elevado a enézima potencia se considerarmos que as pessoas interagem entre si na produção dos atos, donde um ato interfere na vida de outras tantas pessoas, com outros atos subseqüentes. Desde uma piada que faz outras pessoas rirem e que também faz lembrar outras piadas; a um homicídio que põe fim a vida alheia e altera a rotina de seus familiares e amigos.

Para se ter uma idéia da dimensão desses números, imagine uma pessoa que nasce contando números e vive até os 100 anos de idade sem parar de contar, numa cadência de apenas um segundo de intervalo entre um número e outro. No centenário de sua existência, chegará a pouco mais de 3 bilhões. Isso porque 100 anos tem 3.153.600.000 segundos.

Dessa forma, quando falamos em 500 quatrilhões de atos humanos produzidos diariamente, donde muitos destes 500 quatrilhões de atos geram outros milhares de trilhões de atos subseqüentes, estamos tratando de números inimagináveis, impossíveis de serem catalogados de forma organizada.

Num universo tão extenso de possibilidades, nada pode ser considerado improvável de acontecer, haja vista que as pessoas agem e pensam de forma muito parecida. Vale dizer o seguinte: o que você está fazendo ou pensando agora nesse instante, tem muita chance de um grande número de pessoas estarem fazendo ou pensando as mesmas coisas.

Nesse sentido é que deparamos com diversos acontecimentos inusitados os quais tentamos explicá-los com a singela explicação de que foi obra do destino. Isso é comum diante de tragédias como a queda de um avião ou catástrofes como acorrida no Haiti. Aquela pessoa que perdeu o embarque do avião que caiu ou deixou de viajar ao Haiti no dia do terremoto, tende a creditar que seja uma pessoa ungida pela graça do destino.

Ocorre que todos os dias, durante todos os segundos das 24 horas a eles inerentes, milhões de pessoas estão embarcando e desembarcando em aviões em todo o mundo, e dentre esses milhões de passageiros, milhares perdem ou adiam os seus vôos, praticando os famosos atos humanos do cotidiano.

O interessante é que os amantes da tese do destino justificam a existência do mesmo, tanto para o sortudo que sobreviveu, como para os azarados que morreram. Na verdade o que todos faziam nada mais era do que praticar atos humanos que são praticados o tempo todo dentre os 500 quatrilhões produzidos diariamente.

Quando o assunto é relacionamento, essa tendência de acreditar no destino aumenta ainda mais, uma vez que envolve o mais sublime dos sentimentos humanos que é o amor.

Ocorre que somos seres sociais que expressa sentimentos entre os outros seres com os quais convivemos. Dentre esses sentimentos, a amizade, a paixão e o amor. Esse fenômeno ocorre se convivermos numa tribo indígena, numa colônia de ciganos, ou mesmo no lugar mais remoto do planeta. Em resumo, se você mudar hoje para a China, fatalmente, com o tempo, se apaixonará e amará um chinês ou uma chinesa.

Do resto, todos os outros acontecimentos, como é o caso daquela pessoa que casa na velhice com o primeiro amor da adolescência depois de ficar viúva, entra no mundo das estatísticas dos quatrilhões de fatos humanos produzidos diariamente, e que por sua parca presença no mundo das probabilidades, nos dá a sensação de ser algo inusitado e, portanto, pré estabelecido.

A única diferença entre os fatos naturais e os fatos oriundos de atos humanos é que o primeiro é regido pelo ocaso, enquanto o segundo pelo poder da vontade somado à conveniência e oportunidade da decisão do próprio homem, onde, na verdade, nada é pré estabelecido mas tão somente estabelecido mediante cada ato praticado, manifestando-se a cada instante a conhecida lei universal da reação surgida mediante cada ação humana praticada; popularmente conhecida como LEI DA AÇÃO E REAÇÃO.

A prova mais inconteste da existência da Lei da Ação e Reação está diante nossos olhos diariamente estampada nos jornais e noticiários.

Quando uma lei de trânsito mais rígida entra em vigor, os números de ocorrências de morte nas estradas caem, assim como nos quesitos criminalidade, saúde pública, etc.


Basta analisar a conduta alimentar do americano e do japonês e concluir o índice de doenças cardiovasculares nos dois países. Basta analisar a política de segurança pública entre Estados Unidos e Brasil e concluir o índice de homicídios por tráfico de drogas nos dois países, e por ai vai. Toda ação gera uma reação.

Óbvio que a nossa tendência diante o velório de um amigo ou parente que morreu vítima do trânsito violento ou da criminalidade urbana é dizer que houve uma vontade superior que ele morresse, porém, ao verificarmos os argumentos acima, vemos que tal argumento não passa de um engodo que utilizamos para nos conformar.

Nesse sentido ouso afirmar: NÃO EXISTE DESTINO. O debate está aberto.